Estudos principalmente internacionais vem apontando os benefícios de uma visão mais otimista da vida no processo saúde-doença, portanto, com potenciais implicações para a prática clínica. E este texto tem o propósito de trazer os principais achados a partir destes estudos.

Mas antes, é importante explicar que ser otimista não é ser ingênuo ou viver num mundo de fantasias. O otimismo não é uma negação da realidade (quando o indivíduo se recusa a aceitar e compreender a sua situação atual). 

Ser otimista está diretamente relacionado com padrões de pensamento e comportamento para se modificar uma situação desconfortável. Esses padrões de pensamento fazem com que a pessoa acredite que é capaz de transpor adversidades e ter a tolerância para suportar o processo. 

Caractaerísticas dos indivíduos otimistas: 

  • Não se entregam diante da dificuldade. São mais propensos a verem uma situação como um desafio e não uma ameaça. 
  • Focam suas forças em passar por aquela situação, mesmo que o progresso seja lento e difícil. 
  • Identificam o que podem controlar e se concentram nisso, além de aceitar mais facilmente as partes que estão fora do seu controle. Isso poupa energia! 
  • Vivenciam sentimentos desconfortáveis , no entanto, são mais resistente a eles justamente porque confia no seu potencial e não desiste. 
  • Sentem mais emoções positivas, já que a pessoa vivencia experiências de sucesso, porque sempre agem. 

Principais achados das pesquisas: 

  1. O otimismo se associa a efeitos positivos diante de doenças crônicas. A exemplo disso, Carver et al. (2005) avaliaram a influência do otimismo, a confiança em estar livre do câncer e o bem-estar após o tratamento como preditores de bem-estar no futuro entre sobreviventes do câncer de mama. Encontrou-se correlação positiva moderada entre o otimismo e a confiança de melhora, correlação negativa entre sintomas depressivos, distress e otimismo, e positiva quando em relação a níveis de qualidade de vida. 
  2. Balck, Lippmann, Jeszenszky, Günther e Kirschner (2015) também observaram efeitos positivos do otimismo em longo prazo ao avaliarem a influência deste sobre a funcionalidade após cirurgia de substituição total de quadril. Observou-se que, entre os otimistas, a ­funcionalidade dos membros inferiores melhorou consideravelmente, mostrando que o otimismo pode potencializar a recuperação no pós-operatório, em comparação aos efeitos da idade e do gênero.
  3. O otimismo também produz efeitos positivos para a saúde de pessoas mais velhas em relação ao acidente vascular cerebral (AVC). Kim, Park e Peterson (2011) mediram a associação entre este construto e o AVC em adultos mais velhos. Notou-se que, quanto maior o nível de expectativas boas para o futuro, menor a possibilidade de ter um AVC. Observou-se também que o otimismo continuou exercendo efeitos positivos significativos, mesmo após o ajuste de um conjunto abrangente de dados sociodemográficos, comportamentais e biológicos.
  4. A respeito da influência do otimismo sobre a saúde física, Scheier et al. (1999) demonstraram, numa amostra de 309 pacientes (idade média de 62,8 anos), que os mais otimistas tiveram menor índice de reospitalização, tanto ocasionada por problemas como infarto do miocárdio quanto decorrente de causas gerais em comparação aos mais pessimistas. Estudos revelam que otimistas adotam mais hábitos de saúde, em vários contextos, como menor tempo de procura por tratamento nos casos de câncer de mama ou mesmo maior propensão para cumprir os planos em saúde (Lai, & Cheng, 2004). 
  5. Chang (1998) avaliou a moderação do otimismo disposicional na relação entre o estresse percebido e o bem-estar psicológico. A amostra foi de 388 estudantes universitários, matriculados em um curso introdutório de Psicologia. O otimismo disposicional moderou a relação entre o estresse percebido e o bem-estar psicológico. Com isso, Chang (1998), além de ter apontado um norte para estudos de fatores relacionados ao estresse percebido e o bem-estar psicológico, evidenciou a associação positiva entre o otimismo e o ajustamento psicológico. 

Os estudos apresentados, apesar de em contextos distintos, mostraram relação positiva entre o otimismo e a qualidade de vida em longo prazo, viabilizada por meio de seus efeitos benefícos diante do ajustamento psicológico.

Porém os efeitos do otimismo não são explicados apenas pelo fato de otimistas serem mais felizes do que pessimistas, sendo possível constatar diferenças entre ambos em relação, por exemplo, aos níveis de distress. Sugere-se então que há outros fatores que justificam tais distinções, como as estratégias de coping e o significado destas (Carver, & Scheier, 2002). 

Conforme observado, o otimismo tem papel importante na promoção de saúde e bem-estar. Estima-se que enxergar mais coisas positivas para o futuro está relacionado à adoção de hábitos de vida mais saudáveis, maior ajustamento psicológico e mais qualidade de vida, quando se compara com aqueles mais pessimistas quanto ao futuro.

A boa notícia é que o Otimismo é treinável e é possível desenvolvê-lo tanto na perspectiva de eventos passados (otimismo aprendido), quanto de eventos futuros (otimismo disposicional).