Saúde e bem-estar são dois conceitos distintos, mas completamente interligados. A Organização Mundial de Saúde – OMS, define saúde como estado de completo bem-estar do indivíduo, não apenas ausência de doença ou enfermidade.
O bem-estar, por sua vez, está relacionado, entre outros fatores, com a forma como uma pessoa encara a sua vida e as circunstâncias que a cercam. Ele emerge com duas abordagens distintas, sendo uma objetiva e outra subjetiva. A perspectiva objetiva estuda as características de higiene e segurança enquanto a subjetiva engloba componentes afetivos, cognitivos e psicológicos (Vazquez, 2019).
Neste artigo, trago alguns apontamentos a partir dos principais desafios que precisam ser transpostos nas organizações para a promoção da Saúde e do Bem-Estar:
1- Não ter uma cultura de saúde genuína: é um conceito bastante abrangente, que deve ser centrado no empregado e reproduzido em todas as políticas, procedimentos, normas e processos da empresa. A saúde precisa estar na pauta das discussões como um valor para as pessoas e para o negócio. Se não estiver dentro das prioridades, tornará cultura de doença. Um comitê coordenado, composto por profissionais que ocupem diferentes cargos e níveis hierárquicos e que acreditem e advoguem pela causa pode ajudar a estabelecer ações genuínas e convergentes à realidade dos colaboradores, com a proposta de melhorar o bem-estar sob a perspectiva da rotina das equipes.
2- Limitar as práticas de gestão de saúde corporativa: A gestão de saúde corporativa diz respeito às ações que uma empresa realiza a fim de promover e incentivar o bem-estar de seus colaboradores. O convênio de saúde, apesar de necessário, não deve ser o único benefício oferecido como suporte à saúde dos profissionais. Isso porque na lógica da gestão de saúde corporativa, a principal iniciativa deve ser a consciência e prevenção. E partindo deste pressuposto, a necessidade de usar o plano diminuirá, assim como os sinistros, abrindo oportunidade, inclusive, para negociações com as operadoras de plano de saúde.
3- Engajar os empregados no autocuidado: Um dos maiores desafios na minha opinião, pois, cada pessoa está em um estágio de motivação para a mudança, por isso a abordagem e o acompanhamento precisam ser personalizados. Mas como fazer isso em uma empresa com muitos empregados? Respondo que aproveitando os pontos de contato já existentes, como a saúde ocupacional por exemplo, tornando-a uma equipe multiprofissional de referência, integrando o PCMSO às práticas de atenção primária a saúde-APS. Estudos mostram que associar estes modelos pode trazer melhores desfechos para a saúde do trabalhador.
4- Abordar o bem-estar dos empregados de forma fragmentada: É fundamental que os programas de bem-estar contemplem iniciativas de forma holística. Dentro da psicologia positiva, existe um modelo criado pelo renomado professor de Harvard, Tal Ben-Shahar, que abrange o bem-estar espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional. Faz muito sentido ao pensamos que as doenças têm caráter multifatorial, portanto, a prevenção destas e a promoção da saúde e bem-estar precisam partir desta premissa também.
5- Ter lideranças despreparadas para acolher demandas psicoemocionais: Imprescindível que os gestores estejam atentos e abertos para trabalhar com mais empatia, compaixão, autenticidade e positividade. É crescente o número de empregados que vêem a importância da liderança abordar o assunto saúde mental no trabalho, conforme apontado no último Relatório GPTW. Os líderes não precisam e nem devem ter todas as respostas, mas é fundamental que saibam acolher e ajudar os empregados a serem ajudados, a função deles nesta abordagem é tratar o assunto como parte do programa de gestão de pessoas.
6- Não falar sobre saúde mental no trabalho: Para tornar este tema popular dentro das empresas, além de promover os pontuais e grandes workshops é fundamental e talvez ainda mais efetivo, dar espaço nas agendas para rituais pequenos, porém, frequentes, para que essas discussões sejam tão normais quanto falar de formas de prevenir acidentes no trabalho.
7- Não atuar sobre a toxicidade do ambiente: Relações tóxicas minam a segurança psicológica e afetam negativamente o bem-estar. É fato que não existe e não existirá empresa perfeita, mas existem ações que podem ser realizadas para minimizar estas ocorrências nocivas, tais como, educar os empregados sobre todos os impactos associados à condutas abusivas, desde o onboarding, adoção ou o fortalecimento de canais de feedback anônimos, aplicação de normas justas e éticas e estabelecimento de comunicação respeitosa, clara e eficaz.
Por fim, ressalto que tais ações precisam ser sustentáveis, neste caso devem ser consideradas como um investimento. Promover paliativos não funciona mais!
As empresas que perceberem estas necessidades, serão aquelas que estarão melhores no futuro. Estou falando aqui de Sustentabilidade Humana!